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Gravidez de gémeos salta uma geração?
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Gravidez de gémeos salta uma geração?

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São muitos os mitos e crenças populares relacionados com a gestação e a maternidade. A ideia de que a gravidez de gémeos salta uma geração – ou seja, que, se os nossos pais tiveram gémeos, é improvável que nós também tenhamos –  é exemplo disso. Esta crença foi circulando ao longo dos anos até aos dias de hoje. Mas será um mito ou um facto?

É verdade que a gravidez de gémeos salta uma geração?

Questionada sobre se é verdade que engravidar de gémeos salta uma geração, Marcela Forjaz, ginecologista e obstetra na clínica “M de Mulher”, é objetiva: “É um mito, mas daqueles mesmo enraizados”. 

Em declarações ao Viral, a autora dos livros “O Grande Livro da Grávida”, “Parto Feliz” e “Estas Hormonas Deixam-me Louca!” começa por explicar que os gémeos monozigóticos, ditos “gémeos verdadeiros”, ocorrem “aparentemente como um fenómeno aleatório”, ou seja, sem relação com fatores genéticos. 

“Há algo – que ainda não se identificou – que faz com que o zigoto, numa fase mais ou menos precoce da sua evolução no sentido de formar um embrião, se divida em duas partes iguais, que darão origem a duas crianças iguais”, acrescenta.

No caso dos “gémeos falsos” (dizigóticos), há influência genética, mas é “mito” que “salte uma geração”.

Em 2016, foram identificados dois genes associados a gémeos dizigóticos: um interfere na produção de FSH (hormona folículo estimulante), a hormona que estimula o ovário a funcionar e a ovular, e outro regula a resposta do ovário à hormona.

Ou seja, uma mulher que tenha variantes destes dois genes associados à gravidez gemelar terá “mais 27% de probabilidades de engravidar de gémeos dizigóticos do que outra que não possua essas variantes”, aponta Marcela Forjaz.

O que é que isto significa? Uma mulher, tendo estas variantes, poderá ter gémeos. Por sua vez, explica a mesma médica, se a sua descendência “herdar essas variantes”, as filhas terão “maior probabilidade” de ter gémeos, mas os filhos, mesmo que transportem a variante, não têm ovulações.

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“Os filhos apenas transportam essa informação genética para a sua descendência – a geração seguinte – e não terão eles próprios gémeos”, explica a ginecologista e obstetra da clínica “M de Mulher”.

Na prática, eles não terão uma “probabilidade aumentada de serem pais de gémeos” como as raparigas, mas poderão ser avós de gémeos se tiverem filhas (sendo mulheres, vão ovular) que herdem a variante.

Perante isto, “estatisticamente parece saltar uma geração”. No entanto, a autora de “O Grande Livre da Grávida” lembra que, se na descendência de alguém com gémeos houver mulheres, elas próprias “poderão sempre ter probabilidade aumentada” de ter filhos gémeos e, nesse caso, “não saltaria” uma geração.

A médica ginecologista esclarece que na origem do mito pode ter estado o desconhecimento da “explicação genética”.

“Observando as famílias em que existiam gémeos, combinando a aleatoriedade do sexo das crianças e o facto de o homem não poder expressar a variante genética por não ser capaz de ovular, pode parecer que salta uma geração, mas nem tudo o que parece é”, remata a especialista. 

Ou seja, quando há casos de gémeos na família, há “maior probabilidade” de engravidar de “gémeos dizigóticos”, os que resultam de ovulações duplas, mas não significa que “salte uma geração”.

Mas o que é uma gravidez gemelar?

Uma gravidez de gémeos é uma “gravidez de mais do que um bebé”. Por norma, quando se pensa em gémeos, “pensa-se em dois fetos”, mas podem ser três (trigémeos) ou até mais.

Segundo a obstetra Marcela Forjaz, podem ser os ditos “gémeos verdadeiros”, que são os que se “originam de um só óvulo”. Este óvulo ao ser fecundado divide-se em dois embriões idênticos. Neste caso, é uma gravidez gemelar monozigótica.

Por outro lado, podem ser “gémeos falsos ou fraternos” ou, de forma mais científica, “dizigóticos”, que têm origem numa “fecundação de dois ovócitos” resultantes de uma ovulação dupla. 

Os “gémeos falsos” são mais frequentes que os “verdadeiros”, sinaliza Marcela Forjaz, representando 70% das gravidezes gemelares sem recurso a técnicas de procriação medicamente assistidas.

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São vários os fatores associados a uma “maior probabilidade” de uma mulher engravidar de gémeos. A história familiar tem uma influência “muito relevante” porque uma mulher com familiares próximos com gémeos tem “risco maior” de ela própria ter gravidez gemelar.

A idade materna também influencia: as gravidezes gemelares acontecem com “maior frequência” em idades mais avançadas do que em idades jovens, explica a também autora de vários livros sobre maternidade. Comparando uma mulher de 15 anos com uma de 35, a de 35 tem uma probabilidade de engravidar de gémeos “duas ou três vezes” superior à mais jovem.

A “paridade” é outro dos fatores apontados pela ginecologista consultada pelo Viral, ou seja, o número de filhos que a mulher já teve. Quantos mais filhos, maior a probabilidade de ter gémeos.

A estrutura e massa corporal da mulher também “parecem ter influência”, uma vez que se encontram mais gravidezes gemelares em mulheres obesas e altas.

Nas gravidezes gemelares, a geografia ou raça também têm influência, havendo, por exemplo, valores “muito baixos” de prevalência de gémeos no Japão (1,3 em cada 1000 nascimentos) e os “mais altos” na Nigéria (50 em cada 1000 nascimentos).

Apesar de os resultados ainda não serem consistentes, Marcela Forjaz refere que a alimentação “também poderá ter alguma influência”.

Por último, a médica Marcela Forjaz indica que, em caso de infertilidade, os tratamentos para indução da ovulação “poderão também ser responsáveis” pelo aumento do número de gémeos dizigóticos.

Gravidez gemelar: é preciso ter cuidados adicionais? 

Uma gravidez gemelar “é sempre” uma gravidez de risco, explica a ginecologista, e, por isso, a vigilância de uma grávida de gémeos é “mais apertada” do que numa grávida de gestação simples.

“Um acompanhamento próximo poderá minimizar os fatores de risco”, realça Forjaz.

O “acontecimento mais frequente” é o parto prematuro, mas há outras complicações frequentes, como por exemplo, hipertensão induzida pela gravidez, a pré-eclâmpsia e eclâmpsia, diabetes gestacional, descolamento de placenta, rotura de membranas prematura, hemorragia pós parto. 

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Uma revisão da literatura que incluiu 20 artigos, publicada no Electronic Journal Collection Health, identificou uma prevalência de parto prematuro, ruptura prematura das membranas, eclâmpsia e pré-eclâmpsia. A mesma publicação concluiu que há mais complicações maternas e fetais em gestações gemelares do que em gestações únicas.

Em 2019, a maioria das mulheres (55,5%) tiveram uma gravidez gemelar com termo entre as 32 e as 36 semanas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com a ginecologista consultada pelo Viral, em caso de complicações, é essencial que as informações sejam dadas “pessoalmente, olhando na cara, com sensibilidade” à mulher e respondendo a todas as questões e de “forma adequada” à sua diferenciação, idade e grau de profundidade das questões.

Segundo a norma nº001/2023 da DGS sobre organização de cuidados de saúde na preconceção, gravidez e puerpério, todas as mulheres grávidas devem ter acesso a uma primeira consulta entre as 6 semanas e as 9 semanas e 6 dias de gestação, onde lhes deve ser disponibilizada informação escrita, que deverá ser “reforçada e complementada” pelos profissionais de saúde ao longo da gravidez.

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A Direção-Geral da Saúde apresenta 10 recomendações para uma alimentação “saudável e segura” na gravidez. Manter o peso adequado, uma alimentação equilibrada, variada e completa todos os dias, escolher bem os alimentos e consumir em menor quantidade gordura, sal e açúcar são alguns dos conselhos. 

Além disso, a entidade recomenda uma rotina alimentar, comer na dose certa, não fazer dietas restritivas, beber água (8 a 10 copos por dia), limitar a cafeína e excluir o álcool, que é “totalmente desaconselhado”, respeitar a suplementação nutricional e seguir as regras de segurança alimentar na gravidez.

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12 Mar 2024 - 10:03

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